Fim de semana de 15.Set.2012

Neste fim de semana 2 eventos aconteceram em Portugal com bastante significado:
- Portugueses sairam a rua (e.g. http://youtu.be/M7MQVYLip18)
- Portugueses juntaram-se para reflectir (http://www.presentenofuturo.pt/)

Estes eventos são processos que se iniciaram há algum tempo...

A saída a rua iniciou-se em 12 de Março de 2011 (Protesto de 12.Março). Foi uma saída auto-organizada, não profissional, mas que foi o ponto de partida, o perceber que pode acontecer. Por si, já tinha como antecedente a manifestação dos professores, convocada por telemóvel. A partir daqui vários ensaios foram realizados, várias reuniões de movimentos juvenis (grassroots), uma coordenação se iniciou, tendo havido vários eventos como em Maio último a Primavera Global, o encontro dos manifestos São Jorge (Lisboa) - encontro dos manifestos, r-evolucionar portugal (http://www.r-evolucionar.eu/. Estes movimentos estão ligados a movimentos internacionais como o movimento occupy (http://occupywallst.org/) e uma maneira completamente diferentes de fazer as coisas: pacífica, cívica, assente no diálogo, criativa, humanista. Mostra uma capacidade de mobilização grande e um nível de coordenação já muito bom. Mostra também que a indignação geral começa a acontecer, sendo vista de acordo com o enquadramento que cada pessoa tem (um esboço de uma análise pode ser encontrada em Gerações em décadas). Nesse sentido há aqui duas grandes tendências:
- aqueles que estão na casa dos 20's e dos 30's que dão corpo ao processo anterior e as suas motivações são de fundo: não acreditam neste sistema
- os que estão nos 40's, 50's, 60's (e 70's) que estão a reagir ao tempo presente e ao governo: estão a assumir que o sistema pode ser melhor

Se assumirmos que cerca de 1 milhão esteve na rua ontem, sabendo que por cada pessoa que vem a rua 7 ficam em casa mas descontentes, podemos assumir que mais de 5 milhões (7 milhões ?) estão insatisfeitos. Há insatisfação e indignação. Junta-se as duas tendências mas as suas motivações são diferentes.

Os outro evento foi o Presente no Futuro que analiso em Presente no Presente e Presente no Passado. Foi um bom evento, com muita informação, debate e reflexão. Um lançar de um processo de reflexão para o futuro, um processo que começou em 2008 com a criação da Fundação MSS e querer assentar a opinião em dados. Foram colocados dados on-line, editados livros de reflexão e debate, organizado este evento. Um grande exercício de cidadania e da vitalidade da sociedade civil.

Conseguimos reflectir sobre o passado e os dados (acho que falta aqui uma visão histórica bem fundamentada que nos mostre como as 7 gerações anteriores, desde 1800, construíram este presente), temos muita dificuldade em nos distanciar do presente e das dores presentes, uma dificuldade enorme em ver o todo e a pensar a partir do sistema-todo e uma grande dificuldade em imaginar o futuro, em sonhar futuros. Não estamos a conseguir desenhar a partir do futuro que emerge!

Penso que este estado tem várias motivações das quais destaco:
- o momento actual acentua o lado negativo, havendo muita dificuldade em ver o que há de positivo e o que já conseguimos
- continuamos presos a um modelo de pensamento ultrapassado que acha que uma sociedade se constrói pelas elites em que o povo, apático, delega nas elites a condução dos seus destinos
- não temos presente a nossa história dos últimos 150 anos e não percebemos como esse passado nos condiciona no presente
- não temos a visão do sistema todo em que estamos envolvidos e não conseguimos pensar a partir dai (Mundo-Europa-Portugal--)
- não há conhecimento generalizados dos métodos que promovem a colaboração entre nós e nos ajudam a focar no futuro que queremos
- Não conheçemos as mudanças e os casos que já estão a ocorrer em todo o mundo (a revolução silenciosa), desde o movimento transição, natural step, Islândia (pessoa, comunidade, organizaçãoCaso Islândia. Teremos a coragem ?)

Juntando os dois.
Temos um país indigado, que quer mudança. Gosto da vontade, do exercício da liberdade e da cidadania. Da democracia.
Temos um povo (elites incluídas) bloqueado, que não está a conseguir pensar e sonhar o futuro, porque se encontra preso a um modelo já ultrapassado. Preocupa-me não estarmos a conseguir sonhar futuro. De estarmos presos no presente. Preocupa-me a evolução, o dia seguinte, como faço a reflexão em Revolução controlada. A 'revolução verde' alerta-nos para o dia seguinte.
A solução é mudar de paradigma. Co-criação. Mas não há uma consciência colectiva. A questão fundamental desde fim de semana é como podemos aproveitar toda esta energia e vontade para a co-construção de um novo futuro ?


Na semana passada escrevia no facebook que as nossas prioridades são:
- não haver fome para nenhum pessoa no país (gosto da ideia de ilegalizar a pobreza)
- todas as crianças na escola
- garantir que a justiça funciona e que se responsabiliza quem prejudica o bem comum
- pagar a dívida de forma sustentável para o país
- nova organiza-acção das comunidades e sociedade (incluído o sistema de decisão)


I.e., um programa que tenha como objectivo último, fazer com que cada um de nós possa acreditar no outro, como condição para construir uma sociedade de pessoas felizes, porque em realização das suas vidas e potenciais.



Poderíamos estar todos juntos em torno destas 5 prioridades/ objectivos sistémicos e de um programa que acredite em cada um de nós ?


Comentários

Sérgio disse…
Eheheheh... O que eu para aqui encontrei...

A mim parece-me que a base de tudo é que as pessoas estejam informadas, e a partir daí ajam em consciência.
Por exemplo questões tão simples como: o que é o dinheiro, de onde vem, como é criado, etc.?
Vejamos: o dinheiro é parte da nossa vida quotidiana, e diria mesmo que uma parte importante (fácil de concordar). Então se é assim tão importante, porque é que não é ensinado na escola algo tão simples como: afinal o que é o dinheiro?
Eu tenho uma teoria um pouco (bastante) conspiratória (confesso), segundo a qual no dia em que a maioria das pessoas tiver consciência do que realmente é o dinheiro, de onde vem, como é criado, etc. (i.e. quando perceberem que vivemos eternamente em dívida para com uns tantos senhores cujo mérito é terem um botão para criar dinheiro a partir do nada e depois ainda o "vendem" sob a forma de dívida mantendo assim sociedades inteiras, incluindo países, eternamente reféns dessa dívida criada de coisa nenhuma... lol...), então temos uma nova revolução francesa. Continuando a ser conspiratório diria mesmo que um dos pilares que sustenta o “sistema” é exatamente que muito pouca gente saiba como é que este funciona de facto.
Eu acho que para se mudar o "sistema", ou construir um novo futuro, há que refazer estes processos de emissão de dinheiro em que a cada momento, a dívida existente é sempre superior ao dinheiro que existe e logo nunca pode ser paga: dívida existente = dinheiro existente + juro (que é dinheiro que não existe), logo para se poder pagar o juro ao longo do tempo tem de se ir emitindo mais dinheiro, ou seja, contrair mais dívida, sempre num ciclo infinito (até ao dia em que a bolha rebentar...), e nisto mantendo as sociedades cada vez mais e mais e mais... e mais... eternamente devedoras...

Curtam...
Marco de Abreu disse…
Sérgio (espero que esteja tudo bem contigo e com a tua família). Sobre o tema do dinheiro sugiro uma leitura do nef (http://www.neweconomics.org/)/ great transition (new economic foundation); eles enquadram bem a questão da economia monetária e complementar

podes fazer download gratuito em http://www.neweconomics.org/projects/the-great-transition

acho o dinheiro uma inovação importante (quando foi criado); temos é que saber quando e como utilizar; a brincar a brincar é como escolher Java Script quando se devia utilizar java; cada coisa no seu lugar, se bem que com op 'node js' a coisa complica ;-)

1ab/M.

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